quarta-feira

ESPELHO ATLÂNTICO na Revista RAÇA deste mês!


Panorama
Cine Negra Diáspora


De Almada

Conduzindo Miss Daise (1989), A cor púrpura (1985) e Faça a coisa certa (1998) são filmes colocados no imaginário dos cinéfilos do mundo todo e considerados clássicos da Sétima Arte nos quais foi marcante a presença negra. Atualmente já existe quem aponte para a existência de um "cinema da diáspora negra", expressão sob a qual se abrigam as produções de cineastas de diferentes nacionalidades - negros e brancos - inspirados por questões ou personagens negras. Mas onde este tipo de obra estaria sendo produzida? Quem são os artistas que assinam roteiros, dirigem equipes e que atuam nos sets de filmagens? É um cinema crescido e forte o suficiente para buscar seu lugar no disputado mercado cinematográfico? A cineasta paulista Lilian Solá Santiago, que há três anos vem assinando a organização, produção e curadoria de um dos mais bem sucedidos festivais de cinema negro internacional realizado no Brasil, ajuda a responder parte destas questões
Com patrocínio da Caixa Cultural, a mostra Espelho Atlântico, no Rio de Janeiro, ressalta no subtítulo a expressão "cinema da diáspora" que, de acordo com Lilian, ajuda a definir formas de expressões cinematográficas que trazem em si pontos em comum. "Os filmes são africanos ou realizados nos continentes onde há grande concentração de afrodescendentes devido à escravidão colonial. Além dos africanos, temos filmes americanos - América do Norte, Central e Sul - e, ainda, europeus. A ida de africanos escravizados para esses lugares é que chamamos de diáspora negra. Essa dispersão de africanos pelo planeta no período colonial foi realizada basicamente por meio de navios que cruzaram o oceano Atlântico. Por isso o nome da mostra ser Espelho Atlântico, explica Lilian. Sobre a seleção das obras que participam da mostra, a organizadora conta que, na categoria ficção, o critério principal é que os filmes tenham atores e atrizes negras como protagonistas.
Já no caso dos documentários, é fundamental que as temáticas representem a diversidade cultural africana e dos afrodescendentes dispersos pelo mundo. "Os filmes, geralmente, também devem ser recentes, isto é, terem sido realizados nos últimos cinco anos. Outras mostras que trazem filmes africanos não se preocupam com esse critério, que para mim é muito importante, pois garante uma 'atualidade' na representação", defende.
Quem sentou para assistir no escurinho do cinema da Caixa Cultural os filmes que compuseram a última edição de Espelho Atlântico, se deu conta de que, a se tirar pela última mostra de cinema negro contemporâneo realizada no Brasil, os dramas que envolvem a opressão de gênero e de raça sofridos pelas mulheres continuam sustentando roteiros que comovem e conscientizam plateias pelo mundo. E não é diferente no caso do cinema de autoria ou temática negras. "De fato, na mostra, a questão feminina pode ser vista por diferentes pontos de vista. Em Cabo Verde temos uma realidade muito parecida com a nossa, como pode ser constatado no filme Cabo Verde, meu amor, que trata do problema de abuso e gravidez na adolescência.


Já em Esperando os homens, pudemos acompanhar três mulheres na fechada sociedade da Mauritânia, dominada pela tradição, pela religião muçulmana e pelos homens", conta Santiago. Do Zimbábue veio a produção Eu quero um vestido de noiva, que associa três temas que se entrelaçam na história de uma jovem africana pobre que quer realizar aquela que é considerada a maior crença romântica também no Ocidente: o casamento por amor. Apaixonada por um homem pobre sem condições de lhe comprar nem sequer um vestido de noiva, a moça acaba por prostituir-se, é agredida e ainda por cima adquire o vírus HIV. Quando o assunto são os conflitos de ordem racial ou social, alguns diretores têm focado suas lentes tanto para as guerras contra o colonialismo na África nos anos 50 e 60, quanto para as guerras civis que marcaram a maioria dos países africanos. É o que se pode ver em O comboio da Canhoca, de Angola; Kuxa Kanema - o nascimento do cinema, de Moçambique, e Mortu Negra, de Guiné- Bissau. Mas a curadora avisa que, mesmo com temáticas recorrentes nos filmes africanos, a diversidade de abordagem das obras do cinema da diáspora é muito grande. "Isto faz com que assistir a esses filmes ajude a diminuir essa visão canhestra de que a África é um continente-país, um bloco cultural unitário.

Eu quero um vestido de noiva
Kuxa Kanema
"Na verdade, ela é extremamente diversificada", explica Lílian, uma afro-descendente que vem transformando indignação em filmes e que tem no currículo como diretora obras como Família Alcântara, de 2005 (parceria com o irmão Daniel Santiago), Balé de Pé no Chão, de 2006, com Marianna Monteiro, Uma Cidade chamada Tiradentes, rodado em 2007, e, ainda, Graffiti, produção de 2008.
Muita gente considerou O espírito da luta como o filme que deu o "tom" do Espelho Atlântico de 2010. Tendo como protagonistas jovens boxeadores lutando pela conquista de seu espaço, a obra retrata a atual dificuldade de inserção dos países africanos no capitalismo mundial. O tema também foi explorado pelos realizadores de Aproveite a pobreza, sobre a 'indústria' da pobreza no Congo, e ainda, Bem-vindo a Nollywood de Jamie Meltzer - documentário voltado para a indústria cinematográfica emergente na Nigéria, considerada, hoje, a terceira maior do gênero no mundo, ficando atrás apenas da Índia e dos Estados Unidos e que tem como personagens três conceituados realizadores nigerianos. O crescimento deste tipo de produção em países até então desprovidos de recursos para representarem seus universos regionais, culturais, existenciais e políticos através de seus próprios filmes trata-se de um fenômeno dos mais interessantes. "Se eles (os países ricos), séculos atrás, nos colonizaram, nós, hoje, os estamos 'colorizando'", afirmou certa vez o geógrafo Milton Santos, fazendo um trocadilho entre colonizar e 'colorizar' para mostrar as consequências históricas da presença negra, mestiça e amarela dos imigrantes que, vindos dos países pobres e ex-colônias, vivem, atualmente, nas grandes nações ricas do mundo pósmoderno.
A câmera de Claire Denis, cineasta francesa, resolveu registrar a "colorização" de uma metrópole como Paris. Em 35 doses de rum, coprodução franco-alemã de 2008, ela mostra o cotidiano de negros na Cidade Luz. Na tela, as imagens iniciais do filme fazem o público acompanhar o trajeto do metrô pelas linhas férreas que se entrecruzam e passam pelos subúrbios franceses. Uma bela metáfora cinematográfica para o entrecruzamento de vidas que atravessam a interessante narrativa que se segue. Este tipo de produção também aponta para outro fenômeno. Se a maioria dos filmes daquilo que vem se chamando de diáspora negra ainda é produzida nos Estados Unidos, contudo, a Europa tem cada vez mais aparecido como produtora e coprodutora de obras com estas características. É a demanda pelas recentes ondas migratórias que aumentou a produção francesa, alemã e os fomentos ao audiovisual nas ex-colônias.

35 doses de rum
Black Berlim

 DESTAQUES DO ESPELHO:
Em 2008:

Kuxa Kanema
o nascimento do Cinema,
de Margarida Cardoso
Um dos maiores destaques da mostra. O documentário, feito em parte com materiais de arquivo do Instituto Nacional de Cinema, tem imagens do período revolucionário em Moçambique, feitas logo após a independência do país.

Balé de Pé no Chão, de Lilian Solá Santiago e
A Cidade das mulheres, de Lázaro Faria

Com histórias reais de mulheres negras, ambos foram recebidos pelo público com entusiasmo. No primeiro, a personagem é Mercedes Baptista, bailarina criadora da dança afrobrasileira. O segundo traz as mães de santo com sua soberania na organização matriarcal do candomblé na Bahia.


Em 2009:
Cinderelas, lobos e um príncipe encantado,
de Joel Zito Araújo
O polêmico documentário mostrou as facetas do turismo sexual no Brasil, principalmente no Nordeste, chamando a atenção do público para um problema sexual que envolve pobreza e tráfico de mulheres.
Ossudo, de Julio Alves
A animação portuguesa, baseada no conto Ossos, do escritor angolano Mia Couto, também se destacou em sua primeira exibição no Brasil, depois de passar por mais de vinte festivais pelo mundo.


Cariocas, de Ariel de Bigault
Apresentado por Grande Otelo e feito originalmente para a TV francesa, apresenta um inédito ponto de vista da importância e originalidade da cultura brasileira na Europa e o quanto essa cultura é vista como afro-brasileira.


Em 2010:
O espírito da luta,
de George Amponsah
Bukom, um pobre vilarejo de Gana, é o maior produtor de campeões de boxe do mundo. O documentário norte-americano acompanha três boxeadores de lá, dois homens e uma mulher que trilham o caminho para a conquista dos maiores prêmios desse esporte, na África, em Nova Iorque e Londres.

Yandé Coudou, uma griot de Senghor, de Angèle Diabang Brener
Documentário sobre a cantora que é uma das últimas mestras da poesia polifônica 'serere'. A obra é um encontro íntimo com uma diva que atravessou a história do Senegal perto de um de seus maiores mitos, o presidente e poeta Léopold Senghor

Colaboração RAQUEL MARCELINO

Leia a matéria na íntegra:
http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/146/panorama-cine-negra-diaspora-180949-1.asp

Vem ai 3o Festival ENTRETODOS

Este ano participo do júri do Festival "Entretodos" - Festival de Curtas de Direitos Humanos, promovido pela Secretaria de Justiça do Município de São Paulo.
O Festival acontecerá de 13 a 19 de setembro no CineSESC e na Matilha Cultural e, depois, seguirá em mostra itinerante por várias cidades, inclusive Salto, onde dou aula de cinema.
Acabei de assistir a todos os filmes e já tenho o meu favorito para o grande prêmio, mas ainda não posso revelar (rsrsrs). Mas garanto que vou brigar por ele porque me emocionou demais - que filme lindo! Depois que forem divulgados os ganhadores, escreverei sobre ele por aqui.
Saiba mais sobre o festival acessando o site: 
 http://www.entretodos.com.br/

Lançamento do livro "Trançando Idéias" da ESTIMATIVA

Após a palestra no COPENE tive a honra de estar presente no lançamento do livro "Trançando Idéias", da Estimativa, no Circo Voador. Trabalho de fôlego das guerreiras Marina Barbosa e Jana Guinond. A noite foi uma delícia, com show da madrinha da entidade, Sandra de Sá.


Paulistas no Copene e no Circo Voador

Palestra "Mídia e Racismo" no VI COPENE

No dia 27 de julho tive a honra de participar como palestrante da Sessão Especial sobre "Mídia e Racismo" no VI Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros, no Rio de Janeiro.
Pena que por causa do tempo exíguo não conseguimos abrir a palavra ao público. Na mesa, Danny Glover (ator/diretor), Sandra Almada (jornalista da SEPPIR) e eu. O debate foi coordenado pelo artista e professora da UNB Nelson Inocêncio.

Gravações do Documentário "Eu tenho a palavra"

No sentido anti-horário: eu, nosso personagem Chitacumula, Valnei Nunes (fotógrafo)  e o microfonista "emergente" Arthur

No último mês de julho estive às voltas com a pesquisa e gravação do documentário "Eu tenho a palavra". A idéia original previa que gravássemos no Brasil e em Angola. Mas o financiamento para a versão em 26 minutos não foi suficiente para a viagem da equipe a Angola, então focamos nosso trabalho em Bom Despacho. Estamos em negociação com possíveis financiadores para fazer a versão ampliada de 52 minutos, que inclua gravações no continente africano.
Em Minas, foram dias maravilhosos, de intenso aprendizado e trocas. Amo estar em Minas, amo ser meio mineira (afinal, meu pai é mineiro!), amo este trabalho de documentação da cultura afro-mineira. É claro que tem muita frustração também pelo caminho, porque o que idealizamos nem sempre (quase nunca) corresponde à realidade das gravações, mas surpresas agradáveis também acontecem, então na média foi tudo muito bom! Agora estou trabalhando no roteiro de edição e a previsão é que o documentário fique pronto até 31 de outubro. Aguardem!

Imagens da Fazenda, uma das principais locações


A equipe na escola Martin Fidélis, com a Profa. Rosângela (que tanto nos ajudou!), a diretora e Dona Fiota, nossa personagem principal, de vestido azul.

O que a gente não faz por uma imagem!

 Com Aparecida e seu esposo artesão, Bebeto. Ótima entrevista!
 

06/06 - Exibição de GRAFFIT em Taboão da Serra - 2a Mostra Reflexiva de Cinema "Faz lá o café"

domingo

GRAFFITI recebe MENÇÃO HONROSA DE INCENTIVO À PRODUÇÃO no III BAFF - Bahia Afro Film Festival




No último sábado, dia 22 de maio estive em Cachoeira, coração do recôncavo baiano, na cerimônia de premiação do III BAHIA AFRO FILM FESTIVAL, onde "Graffiti" recebeu uma Menção Honrosa de Incentivo à Produção.

Que alegria estar naquele lugar! Meu "instinto" de historiadora ficou exultante - viajei para o coração do que foi a indústria agro-açucareira do Brasil colonial que hoje, sem escravidão pra "atrapalhar", é berço de um povo afro-brasileiro lindo, lindo, lindo!

Confira todos os premiados no III BAFF no link abaixo:
http://news.bahiaafrofilmfestival.com.br/?p=677

III ESPELHO ATLÂNTICO - Mostra de Cinema da África e da Diáspora



Evento apresenta a atual produção cinematográfica africana e afro-descendente

A CAIXA Cultural apresenta a “III Espelho Atlântico – Mostra de Cinema da África e da Diáspora”, com direção geral da cineasta Lilian Solá Santiago e que traz ao Rio de Janeiro sua primorosa seleção de filmes africanos e da diáspora negra. O evento acontece de 11 a 16 de maio, com exibições simultâneas nos cinemas 1 e 2.

A mostra “Espelho Atlântico” é uma rara oportunidade de assistir a importantes títulos, alguns inéditos por aqui, capazes de provocar uma profunda reflexão sobre os pontos de identificação e convergência entre as identidades brasileira, africana e ocidental
.

 
Esta terceira edição proporcionará uma abordagem atual e significativa da produção cinematográfica africana contemporânea e da realizada fora do continente, mas que dialoga diretamente com a herança cultural do continente africano.


 Falar de diáspora é reconhecer que a África vive. Não só nos territórios africanos de hoje, com sua enorme diversidade de povos e culturas, mas principalmente na Europa e Américas. Em todos esses lugares, o que é branco, europeu, ocidental e colonizador sempre foram os elementos considerados positivos, o que reflete na cinematografia. 
 
A mostra “Espelho Atlântico” destaca o que comumente é posicionado em termos de subordinação e marginalização: o pensamento, os sentimentos e os traços negros – de africanos, escravizados e colonizados.

SERVIÇO:
III Espelho Atlântico – Mostra de Cinema da África e da DiásporaLocal: CAIXA Cultural RJ – Cinemas 1 e 2
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25, Centro (Metrô: Estação Carioca)
Telefones: (21) 2544-4080
Temporada: de 11 a 16 de maio de 2010
Horários: Sessões a partir das 19h
Ingressos: R$ 4,00 (inteira), R$ 2,00 (meia-entrada)
Acesso para portadores de necessidades especiais.
 

Classificação indicativa: Consultar programação

FESTA DE ABERTURA DIA 11/05 - 21h
Local: Estrela da Lapa
Av. Mem de Sá, 69 (próximo aos Arcos da Lapa)
DJ Zé Octavio (afro-beat, afro-cuban, afro-jazz, soul, funky e Rhythm n' blues)
Preço: R$ 20,00 ou R$10,00
(Ingresso do filme ou lista: espelhoatlantico@gmail.com)

REALIZAÇÃO
Terra Firme Digital

APOIO
ONG Estimativa
Goethe-Institut Porto Alegre / Coordenação Nacional do INPUT no Brasil
Faculdade de Comunicação e Artes do CEUNSP
Encontros Latinos
Estrela da Lapa
Kitabu Livraria Negra




PROGRAMAÇÃO E SINOPSES


Dia 11/05 – terça-feira - ABERTURA SEGUIDA DE FESTA NO "ESTRELA DA LAPA"

O espírito de luta
(Documentário, 80 min., Gana / Estados Unidos / Reino Unido, 2007)
Direção: George Amponsah
Sinopse: Três boxeadores, dois homens e uma mulher de uma pequena comunidade de Gana, buscam seu caminho para conquistar os maiores prêmios desse esporte, em Nova Iorque e Londres. A realidade da África moderna, os sonhos e ambições de seus jovens lutando por recompensa, respeito e a conquista de seu espaço. Premiado com o AfroPop Award (2008) e no Festival de Documentário Real Life, exibido no New York African Film Festival e no Africa In The Picture Film Festival.

Dia 12/05 – quarta-feira

Quero um vestido de noiva
(Ficção, 26 min., Zimbabwe, 2008)
Direção: Tsitsi Dangarembga
Sinopse: Kundisai está de casamento marcado e deseja comprar um belo vestido de noiva. Tanto ela quanto seu noivo não têm dinheiro para transformar esse sonho tão simples em realidade. Para conseguir o vestido, Kundisai faz escolhas que podem não ter o resultado esperado.

Yandé Codou, uma griot de Senghor
(Documentário, 52 min., Senegal, 2008)
Direção: Angèle Diabang Brener
Sinopse: A cantora Yandé Codou Sène, 80 anos de idade, é uma das últimas mestras da poesia polifônica “sérère”. O filme é um olhar íntimo sobre uma diva que atravessou a história do Senegal perto de um dos seus maiores mitos, o presidente e poeta Léopold Sédar Senghor. Prêmio de público de melhor documentário no Festival de Filmes de Dakar (2008).

Dia 13/05 – quinta-feira

Darluz
(Ficção, 15 min., Brasil, 2009)
Direção: Leandro Goddinho
Elenco: Mawusi Tulani, Antonio Vanfill, Carolina Bianchi, Ricardo Monastero, Ester Laccava, Tayrone Porto, Valdir Grillo, Lucélia Sérgio.
Sinopse: “Dei José, dei Antonio, dei Maria. Dei, daria e dou. Não posso criar.” Premiado no 17º Festival de Vídeo de Teresina – PI e no 16º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá. Selecionado para o 10º International Film Festival Hannover.

Aproveite a pobreza
(Documentário, 90 min., Holanda, 2008)
Direção: Renzo Martens
Sinopse: Durante dois anos, o diretor viajou pelo Congo, desvendando a indústria da luta contra a pobreza no país pós-guerra civil. Sua conclusão: a pobreza veio para ficar, e "combatê-la" é uma indústria que em nada beneficia os pobres. Selecionado para a abertura de Amsterdam International Documentary Festival.

Dia 14/05 – sexta-feira

Quase todo dia
(Ficção, 18 min., Brasil / Estados Unidos, 2009)
Direção: Gandja Monteiro
Elenco: Priscila Marinho, Agatha Marinho, João Lima, Fernanda Félix, Hélio Braga.
Sinopse: Em um dia de inverno, Priscilla e sua filha percorrem uma longa jornada enfrentando engarrafamentos, situações inesperadas e o descaso das pessoas de quem Priscilla mais precisa neste importante momento de sua vida.Selecionado para o Los Angeles Latino International Film (2009), Festival do Rio de Janeiro (2009) e Tribeca Film Festival (2009).

35 doses de rum
( Ficção, 100 min., França/Alemanha, 2008)
Direção: Claire Denis
Elenco: Alex Descas , Mati Diop , Nicole Dogué , Grégoire Colin, Jean-Christophe Folly, Julieth Mars, Djedjé Apali, participação especial: Ingrid Caven
Sinopse: O viúvo Lionel vive com sua filha, Josephine no subúrbio de Paris. Enquanto ele atrai a atenção de uma mulher de meia-idade, um taxista do bairro flerta com Josephine. Lionel percebe que a filha está ficando independente e que talvez seja hora deles confrontarem seus passados. Selecionado para o Toronto Film Festival (2008) e Festival de Veneza (2008). Premiado em Gijón International Film Festival (2008), Mostra Internacional de São Paulo (2009) e nomeado em Chlotrudis Awards (2010).

Dia 15/05 – sábado

Black Berlim
(Ficção, 13min., Brasil /Alemanha, 2009)
Direção: Sabrina Fidalgo
Ficção, 13 min.
Elenco: Bobby Gomes, Sabrina Fidalgo, Robson „Caracú“ Ramos, Marília Coelho, Walter Chavarry, Luíza Baratz, João Vítor Nascimento,Tonia Reeh, André Schröder, Carolina Ciminelli, Juan Velloso Melo, Clara Buentes e Lucas Cruz
Sinopse: Nelson é um jovem baiano estudante de engenharia em uma renomada universidade em Berlim. Leva uma vida hedonista, distante de suas verdadeiras raízes. Tudo muda quando ele passa a encontrar Maria, uma imigrante ilegal do Senegal. As lembranças o remetem a um passado que ele preferia esquecer. Selecionado para o Lateinamerika-Institut (LAI) da Universidade Livre de Berlim (FU Berlin).

Em Quadro - A História de 4 Negros nas Telas
(Documentário, 93 min., Brasil, 2009)
Direção: Luiz Antonio Pilar
Sinopse: O documentário retrata vida e obra de Ruth de Souza, Zezé Motta, Lea Garcia e Milton Gonçalves. Os cineastas Roberto Farias, Cacá Diegues, Antonio Carlos da Fontoura e Joel Zito Araújo relatam experiências em obras como O Assalto ao Trem Pagador, Xica da Silva, A Rainha Diaba e Filhas do Vento. Selecionado para a abertura da Mostra Especial Fora de Competição do 37º Festival de Cinema de Gramado e para o Festival do Rio (2009).

Dia 16/05 – Domingo

Doido Lelé
(Ficção, 15 min., Brasil, 2009)
Direção: Ceci Alves
Elenco: Vinícius Nascimento, Jussara Mathias, Maurício Pedrosa, Nonato Freire
Sinopse: Caetano sonha em ser cantor de rádio na década de 1950 e foge todas as noites de casa para tentar, sem sucesso, a sorte num programa de calouros. Até que, uma noite, ele aposta tudo numa louca e definitiva performance. Premiado no 4º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino, exibido na mostra Corrida Audiovisuelle, em Toulouse como convidado da École Supérieure d’Audiovisuel (ESAV), França.

Bem-vindo à Nollywood
(Ficção, 56 min., Estados Unidos, 2007)
Direção: Jamie Meltzer
Sinopse: Em Lagos, capital da Nigéria, o diretor segue três dos mais conceituados realizadores de Nollywood, cada um com seu diferente estilo e personalidade, enquanto produzem seus filmes sobre amor, guerra, traição e o sobrenatural. Selecionado para o Full Frame Documentary Film Festival (2007), Avignon Film Festival (2007) e Melbourne International Film Festival (2007).


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segunda-feira

Sobre o projeto: EU TENHO A PALAVRA

EU TENHO A PALAVRA é um documentário que pretende contribuir para a valorização da participação da cultura banto, preservada pela oralidade, na configuração do patrimônio cultural brasileiro.
Durante décadas acreditou-se na supremacia do iorubás-nagôs, no que se refere à contribuição das diferentes etnias africanas para a formação cultural brasileira. Essa idéia foi influenciada, principalmente, pelos estudos efetuados por Nina Rodrigues, no final do século XIX na cidade de Salvador-BA, seguido por Roger Bastide e Pierre Verger, na década de 1930. O resultado desse continuísmo metodológico foi o desenvolvimento da tendência equivocada de resumir a história do negro no Brasil à história do povo sudanês através de uma ótica iorubá.
Se levarmos em consideração que a língua viva de um povo é o testemunho mais antigo da história desse povo, os dados obtidos no domínio da língua, da religião e das tradições orais no Brasil revelam a presença banto como a mais antiga e superior em número e em distribuição geográfica no território brasileiro, por mais de três séculos consecutivos. Testemunho desse fato é o próprio vocabulário associado à escravidão, com palavras tais como quilombo, senzala, mocambo, mucama, assim como o vocabulário religioso afro-brasileiro, onde os vocábulos mais conhecidos são candomblé, umbanda, catimbó, macumba. Ainda hoje há registros de falares isolados em comunidades rurais, vestígios de antigos quilombos, que preservam um sistema lexical banto, como a “língua do negro da Costa” ou “Gira (língua, gíria) da Tabatinga”, ainda falada no quilombo de Tabatinga, situado no bairro Ana Rosa, periferia da cidade de Bom Despacho (MG).
Nossos personagens principais são dois: Dona Fiota e Chitacumula. Dona Fiota, Maria Joaquina da Silva, esteve presente noSeminário Legislativo sobre a Criação do Livro de Registro das Línguas”, promovido em 2006 pelo IPHAN, falando das origens e do trabalho de preservação da língua falada no quilombo de Tabatinga.
A “língua do negro da Costa” era falada nas antigas senzalas das fazendas do interior de Minas Gerais e, com ela, os escravos podiam se comunicar livremente. Dona Fiota conta: “A gente não podia falar o nome do trem. Tem assango? Não, não tem assango. Tem cambelera? Não, cambelera também não. Tem caxô? Nada de caxô. Então, minha mãe falava: ‘Catingueiro caxô. Caxô o quê? No Curimã’. Ela tava avisando que o patrão havia chegado. Aprendi essa língua com a minha mãe. Ela falava todo dia para mim até eu aprender. Isso traz toda uma história pra gente, tanto das partes alegres, como das tristes”.
Dona Fiota foi escolhida pela comunidade para ser professora da “língua do negro da Costa”, com salário a ser pago pela Secretaria Municipal de Educação de Bom Despacho. Após um mês de trabalho, quando foi receber, o funcionário lhe disse:- “Ah, a professora é a senhora? Então, não vou pagar. Como justifico o pagamento a uma professora que é analfabeta?”. Dona Fiota deu uma resposta de bate-pronto:" Eu não tenho a letra. Eu tenho a palavra".
Nosso outro personagem principal, Amadeu Fonseca Chitacumula, é um estudante angolano no Brasil. Conhecedor e amante de sua cultura, Amadeu participou em 2004 do evento “Minas afro-descendente - Uma experiência de revitalização de remanescentes de línguas africanas em Minas Gerais”, fruto de projeto da Faculdade de Letras da UFMG, coordenado pela professora Sônia Queiroz. Nessa ocasião, encontrou-se com Dona Fiota. Depois de se cumprimentarem em português, Dona Fiota pronunciou frases no dialeto que aprendera com a mãe. Chitacumula, surpreendentemente, entendia tudo o que dona Fiota dizia, e traduzia etimologicamente a origem de suas expressões, comparando com sua língua natal, o umbundo. A língua umbundo é falada pela etnia banta ovimbundo, da qual Chitacumula faz parte, e que constitui cerca de 40% da população de Angola.
Em nossa estratégia de abordagem pretendemos, na primeira parte do documentário, acompanhar uma visita de Chitacumula a Dona Fiota, em Bom Despacho (MG). Na segunda parte, é Dona Fiota que embarcará para Angola junto de Chitacumula, numa visita à família deste residente na cidade de Huambo, capital da província com o mesmo nome – na região onde se concentram a maioria dos ovimbundos.
A viagem de Dona Fiota representará, em pequena escala, a volta de um país inteiro às suas origens. O Brasil do samba e da capoeira, encontrará, enfim, sua irmandade banta do outro lado do oceano, separados que foram por séculos de escravidão e de estudos equivocados. A trilha sonora reforçará essa ideia de encontro, e consistirá principalmente dos vissungos recolhidos por Aires da Mata Machado em 1928, outros mais recentemente recolhidos, e canções tradicionais, na voz dos próprios personagens.
Através do documentário EU TENHO A PALAVRA pretendo também render homenagem aos meus antepassados, africanos escravizados nas terras das Minas Gerais colonial, falantes da “língua do negro da Costa”, amantes e praticantes da sabedoria que “não está escrita”. Com licença do curiandamba...

sábado

"EU TENHO A PALAVRA" - o próximo documentário vem ai!

27 / 02 /2010 - Selecionados os projetos do Etnodoc 2009
RIO DE JANEIRO, Rio de Janeiro - A comissão de seleção do  Edital de apoio à produção de documentários etnográficos sobre patrimônio cultural imaterial  (Etnodoc 2009) anunciou no último dia 26, os 16 projetos vencedores entre  os 706 inscritos, número que superou todas as expectativas, significando um aumento de mais de 50% em relação à primeira edição, em 2007. Os projetos serão produzidos este ano e destinam-se à  exibição em redes públicas de TV.

Oriundo de projeto mais amplo, intitulado “Sensibilização e orientação para salvaguarda do patrimônio cultural imaterial”, o Etnodoc  foi criado em 2007 a partir de um grupo de trabalho composto por especialistas do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) e do Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Ministério da Cultura. Cabe à Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro, vinculado ao CNFCP,  a gestão do projeto, patrocinado pela Petrobras, num total de R$ 1.200.000,00.

Entende-se por patrimônio cultural imaterial a definição estabelecida no artigo 2º da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO, publicada em 2003: “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana”.

O Etnodoc busca somar esforços e ampliar as ações voltadas para a valorização e promoção dessa dimensão do patrimônio cultural, assim como estimular iniciativas voltadas para a melhoria das condições de transmissão, produção e reprodução dos bens culturais que compõem esse universo.

Projetos selecionados
Projeto/ Proponente/ Estado proponente/ Estado temática

- Eu tenho a palavra/ Lilian Solá Santiago/ SP/ MG
- Vento Leste/ Joel de Almeida/ BABA
- Quindim de Pessach/ Viviane Lessa Peres/ SP/ SP
- A arte e a rua/ Carolina Caffé/ SP/ MG
- Kusiwarã Jarãkõ – os donos dos grafismos, arte e saberes Wajã pi/ Dominique Tilkin Gallo`/SP/ AP
- O último rastro/ Marcus Antonio Moura Tavares/ CE/ CE
- João da Mata falado/ Ana Stela de Almeida/ MA/ MA
- Dona Joventina/ Clarice Kubrusly/ RJ/ PE
- Baile do Carmo/ Daniel Eiji Hanai/ SP/ SP
- As escravas da Mãe de Deus/ Decleuma Lobato Pereira/ AP/ AP
- Kaiowa: Nhe’e Ojapova – a palavra que age/ Spensy Kmitta Pimentel/ MS/ MS
- Hoje tem alegria/ Fabio Meira/ SP/ PE
- Soldados da borracha/ Cesar Garcia Lima/ RJ/ AC
- Palavras sem fronteiras – tradições orais nos limites do Brasil/ Luciana Hartmann/ DF/ RS
- Curandeiros do Jarê/ Camilla Dutervil/ DF/ BA
- Arte e manhas de Exu/ Eliane Coster/ RJ/ RJ

Comissão de Seleção do Etnodoc 2009
Elianne Ivo Barroso
Fernando Cury de Tacca
Ricardo Gomes Lima
Solange Zuñiga
Vik Birkbeck


Fonte: CNFCP

http://www.revistamuseu.com.br/noticias/not.asp?id=23018&MES=/2/2010&max_por=10&max_ing=5

domingo

REFLEXÕES DE UMA SUPEROUTRA


 Cartaz do Filme de Sarraceni (1980), minha primeira participação no cinema 

"Dom Quixote aproximou-se dos moinhos e com pensamento em sua adorada Dulcinéia de Toboso, á qual dedicava suas façanhas , arremeteu de lança em riste contra o primeiro moinho. O vento ficou mais forte e lançou o cavaleiro para longe. Sancho socorreu-o e reafirmou que eram apenas moinhos. Dom Quixote, respondeu que era Frestão, quem tinha transformado os gigantes em moinhos." (Trecho do livro "Dom Quixote de la Mancha", de Miguel de Cervantes)

Dedicar-se a fazer filmes no Brasil é uma atividade que em muito se assemelha às investidas do personagem Dom Quixote, de Cervantes contra os moinhos de vento, que ele julgava ser gigantes. O cineasta-autor, marcado por essa dualidade de ser alguém com o pensamento no céu mas preso à terra, à dura realidade do dia-a-dia da produção cultural, repleta de signos trocados o faz, por vezes, duvidar de sua própria sanidade mental.
Um dos principais historiadores do cinema brasileiro, Paulo Emílio Salles Gomes, intelectual que criou o curso de cinema na Universidade de Brasília e um dos primeiros professores do curso de cinema da Universidade de São Paulo, disse uma vez: "não somos europeus nem americanos do norte, mas destituídos de cultura original, nada nos é estrangeiro, pois tudo o é. A penosa construção de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro" (Cinema, trajetória no subdesenvolvimento, p. 90).
Realmente gostaria de saber o que faz uma pessoa se dedicar à essa inglória batalha, de fazer filmes em lugares marcados pelo subdesenvolvimento, num mundo hegemonicamente tomado pelas imagens provindas dos Estados Unidos, seu star system, sua estrutura megalomônica de distribuição e promoção de imagens. Até porque, eu mesma sou uma delas e talvez, se tivesse essa resposta, poderia começar a me curar dessa doença, virar as costas aos moinhos e cuidar da minha própria vida. Mas que vida seria essa? Quem seria a "Superoutra" no meu caso? Não me ocorre nada, porque só tenho essa vida mesmo e, desde que nasci, estive às voltas com o universo cinematográfico e audiovisual. 

Cena do filme "O SuperOutro", de Edgard Navarro Filho (1989)

Sou a filha mais nova de uma família grande. Meu pai, que era motorista e professor de alfabetização de adultos, insuflou o interesse pela cultura em seus filhos, de tal forma que, todos nós, nos dedicamos ao fazer cultural e ao magistério, ou ambas as coisas, de uma forma ou de outra. Quando era motorista de uma grande empresa publicitária brasileira, ainda na década de 60 - a Standard, deu um jeito para que seus filhos fossem trabalhar na agência como estagiários nas áreas em que apresentavam mais aptidão. Um dos meus irmãos se tornou diretor de arte, hoje artista plástico, outro, já falecido, foi para a área de redação, e outro se tornou produtor e diretor. Eu nasci na década de 70, e ainda criança, visitava sets de filmagem, brincava nos corredores da televisão Tupi e vivia num ambiente cercada por intelectuais e comunicadores.
No início da década de 80 ocorreu um pequeno fato que me marcou profundamente, e que talvez tenha definido os rumos que minha vida tomou. A convite de meu irmão Daniel, que era assistente de produção à época, participei como figurante do filme "Ao sul do meu corpo", de Paulo César Sarraceni, coincidentemente um roteiro baseado num conto de Paulo Emílio Sales Gomes. Era um filme de época, e minha participação era ser "uma menina que passava", reconstituindo a imagem de uma fotografia do final da década de 30. Na semana de preparação, ficava olhando aquela foto por horas - eu ia representar uma pessoa que poderia ja ter morrido, de outro tempo, e aquilo me impressionou bastante. O figurino reproduzia exatamente a foto - uma roupa de colegial. No dia da filmagem, eu passei toda a manhã subindo e desendo uma escada. No intervalo para o almoço, toda equipe se sentou à mesa improvisada, que era na verdade uma prancha de madeira sobre cavaletes. A atriz principal, Ana Maria Nascimento, maquiada e vestida com o figurino de época, e que antes eu apenas tinha visto falando o texto severo e contido da cena, expressava-se com liberdade entre os eletricistas e maquinistas ("a turma da pesada", como são chamados), e de repente soltou um sonoro palavrão. Ao invés dos homens presentes a repreenderem, como meu pai fazia comigo em casa, todos riram. Achei aquela cena linda, e lembro que pensei: "é isso o que eu quero fazer! Quando crescer quero trabalhar com cinema, onde a gente viaja no tempo sem o pó de pirlimpimpim, e a mulher pode ser linda e falar palavrão".
Realizado ainda no período da ditadura militar, o filme teve enormes dificuldades em ser liberado pela censura. Quando estreou enfim, como era uma criança, não pude ir à pré-estréia. Lembro da minha frustração em não poder assistir ao filme...
Anos se passaram, e quando estava na idade de ingressar no mercado de trabalho, a Embrafilme, empresa estatal que fomentava a produção e distribuição de filmes brasileiros, inclusive "Ao sul do meu corpo", havia sido fechada pelo governo Collor, e a produção cinematográfica brasileira foi abruptamente interrompida.
Influenciada pela militância no movimento estudantil secundarista, com a petulância que é comum aos muito jovens, resolvi que deveria me preparar para ser Ministra da Cultura, para implementar leis que fizessem com que a produção cinematográfica brasileira voltasse a existir. Assim, quem sabe, um dia poderia fazer filmes.
Ao invés de querer estudar cinema, área em que já atuava como assistente de produção de filmes publicitários, tentei por anos ingressar no curso de Administração Pública, muito concorrido à época, em vão. No cursinho preparatório um professor destacou minha vocação para o estudo da História, e me incentivou a fazer esse curso superior, ao invés de Administração, e foi o que fiz.
Ingressei na Faculdade de História da Universidade de São Paulo em 1993, mesmo ano em que foi promulgada a Lei do Audiovisual, que restabeleceu a produção cinematográfica nacional – que bom que não precisei ser Ministra da Cultura para isso, o que provavelmente eu jamais seria, afinal de contas, Ministro é um cargo político e não de carreira.
No ano seguinte, já estava participando da equipe do filme "Os Matadores" de Beto Brant, como assistente de produção e, desde então, não parei mais. Lá se vão mais de quinze anos dedicados à produção, realização e ao ensino audiovisual, com muitos altos e baixos - num dia a gente está numa festa num dos maiores festivais de cinema do mundo, no outro tem que se virar para pagar a conta de telefone. Haja coração!
Este ano estou ingressando numa grande instituição de ensino, como professora-cineasta, para ministrar aulas de roteiro, produção e direção. Uma nova etapa na vida, um novo desafio. Agora, terei que dar aulas todas as noites, e durante o dia vou me dividir entre o preparo das aulas e meus projetos pessoais. Não estarei presente em todas as exibições de filmes durante a ESPELHO ATLÂNTICO – Mostra de Cinema da África e da Diáspora, e as gravações e filmagens terão que ser planejadas para o período das férias. Mas estou feliz, creio que assim vou poder me organizar melhor e viabilizar projetos com mais qualidade, já que não vou depender exclusivamente deles para viver. Dom Quixote, nesse caso, depõe as armas e, sem abandonar seus sonhos, vai procurar realizá-los de forma mais tranquila e organizada. Lá vamos nós para uma outra etapa... E que venham mais e melhores filmes!


 

ADEUS À ESCOLA LIVRE DE SANTO ANDRÉ

Mais uma etapa se finda. Não estou mais na Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André. A turminha que acompanhava, parte agora para o último ano de curso. Torço por eles e pelo fortalecimento da escola.
Segue algumas fotos da Mostra que aconteceu em dezembro passado, onde foram exibidos os vídeos dos alunos do curso regular. Espero que eles coloquem na internet, ai posso postar aqui no Blog.
Força na peruca!!!
 

DOZE DISCÍPULOS DE NELSON MANDELA

Um dos filmes mais celebrados na II ESPELHO ATLÂNTICO foi "Doze Discípulos de Nelson Mandela" (Twelve disciples of Nelson Mandela), de Thomas Allen Harris.

O filme mostra o encontro de 12 amigos que deixaram a cidade de Bloemfontein nos anos 60, para montar o Congresso Nacional Africano com Nelson Mandela.Um deles vai para os Estados Unidos e, mais tarde, torna-se o padastro do diretor. Com entrevistas, material de arquivo e reconstituições dramáticas, Thomas relaciona de forma extremamente poética sua história de vida pessoal com com um dos fatos mais importantes do século XX - a luta contra o Apartheid na África do Sul.
Em breve, o filme será novamente exibido no Brasil. Por enquanto, você pode assistir ao trailler abaixo:


 

quarta-feira

Vem aí a III ESPELHO ATLÂNTICO


Acabei de ver o resultado do Edital de Ocupação da Caixa Cultural, e a III ESPELHO ATLÂNTICO - Mostra de Cinema da África e da Diáspora foi aprovada!

A III ESPELHO ATLÂNTICO está confirmada no Rio de Janeiro, no Espaço Caixa Cultural, de 11 a 16 de maio de 2010. Agora, estou articulando a itinerância para outras cidades (como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre), e em breve vocês terão novidades.

Para a próxima edição estou selecionando filmes interessantíssimos do continente africano, europeu e  da América, de cá e de lá, com destaque para os filmes americanos (de lá). Do Brasil, um dos filmes já confirmados é Darluz (foto acima), de Leandro Goddinho, com a m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a Mawusi Tulani (atriz da Cia. Os Crespos).

Vídeo "RODA O TERERÉ" chega às cidades de Mato Grosso do Sul


Um dos trabalhos que realizei este ano foi o vídeo-documentário "Roda o Tereré", para o IPHAN-MS, e que faz parte do Inventário Nacional de referência Cultural da Região do Erval Sul-mato-grossense.

Graças à esta pesquisa, mergulhei fundo no patrimônio imaterial do Mato Grosso do Sul, principalmente no que se refere ao uso da erva-mate, suas origens e seus costumes. O ponto alto do vídeo é a cerimônia do Caa (nome indígena guarani da erva-mate), na aldeia guarani de Panamby. A erva-mate é sagrada para o povo Guarani Kayowá, e eles tem muito respeito a Caati (a mãe-erva). Onde encontramos o uso da erva-mate, em forma de tereré ou chimarrão, podemos atestar a presença da cultura guarani desde a era pré-colonial: nos estados brasileiros de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e na Argentina, Paraguai e Uruguai.

Uma das coincidências dessa ação, é que o Balaio do Patrimônio começa justamente por Bela Vista, primeira cidade do Mato Grosso do Sul que conheci, nos idos de 1994, na produção do filme "Os Matadores", de Beto Brant - também o primeiro longa-metragem que participei, e o primeiro tereré da minha vida! Já estava na faculdade de História, e confesso que me interessava mais pelas peculiaridades culturais da região do que pela dramaturgia do filme. Fiquei fascinada com aquele ritual de passar a cuia, feita num chifre de boi, de mão em mão, de boca em boca, em qualquer casa que fôssemos visitar - momento em que tudo pára, hora de contar um "causo", de falar mansamente sobre a vida, de compartilhar a vida. Àquela época, nem de longe, poderia imaginar que um dia faria um documentário sobre a erva-mate...
Como diz a música de abertura do documentário, do poeta Emmanuel Marinho:

"Esta erva boa de tomar Chique na xícara se chama chá Em outras terras é té ou tea Na cuia ali no mar de Xaraés É tereré, é tereré."

E roda o tereré!

Leia abaixo a íntegra da notícia sobre a distribuição do vídeo:

Balaio do Patrimônio acontece em Mato Grosso do Sul


27/11/2009

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Mato Grosso do Sul - Iphan-MS realizará de 30 de novembro a 18 de dezembro o projeto Balaio do Patrimônio.

O Projeto consiste na entrega de sessenta kits de material publicado e editado pelo Iphan Nacional sobre Patrimônio Imaterial, que serão destinados às entidades culturais e educacionais dos municípios de: Campo Grande, Corumbá, Bela Vista, Ponta Porã e Coxim.

O Projeto intitulado Balaio do Patrimônio Cultural tem por objetivo promover a integração entre os mais diversos setores da produção cultural brasileira, através de suas manifestações artísticas e culturais, com enfoque específico no patrimônio imaterial. Em um país de dimensões continentais a riqueza de suas manifestações artísticas e culturais não pode ficar estática dentro de seus locais de origem, necessitando desta forma, da circulação dinâmica entre as diferentes regiões do país. Dentre os diversos títulos brasileiros que fazem parte do pacote, está a publicação sobre nossa viola de cocho pantaneira e o vídeo documentário "Roda o Tereré". Este, produto resultante do Inventário Nacional de referência Cultural da Região do Erval Sul-mato-grossense.

As prefeituras de cada município determinarão quais são as Instituições que irão receber os kits, para colocá-los à disposição da população para consultas e estudos, envolvendo, assim, as Bibliotecas Públicas, Secretarias de Educação e Cultura, Arquivos Históricos e do Patrimônio, Universidades, Fundações de Cultura, Academias de Letras e outras.

Durante a solenidade será exibido o vídeo documentário "Roda o Tereré" e haverá uma apresentação cultural regional do Grupo Camalote, que é Ponto de Cultura pelo Iphan-MS.

O Projeto também funcionará em outras cidades, confira:

Dia 30 de novembro - BELA VISTA
Horário: 14h Local: Cine São José

Dia 01 de dezembro - PONTA PORÃ
Horário: 10h Local: Escola MAPPE

Dia 05 de dezembro - COXIM
Horário: 10:00 Local: A definir

Dia 07 de dezembro - CAMPO GRANDE
Horário: 19:30h Local: Morada dos Baís

Dia 18 de dezembro – CORUMBÁ
Horário: 19:30h Local: Centro de Convenções Miguel Goméz.